
Eu me acostumei com a pessoa errada
Eu me acostumei com a pessoa errada…
Ainda lembro o dia em que te conheci. Lembro a emoção de, pela primeira vez, encontrar alguém que parecia realmente se importar comigo e com o meu mundo. Lembro o momento em que você segurou minhas mãos com força e depois me beijou… Naquela hora, desfaleci. Você havia me desarmado, e sinceramente, eu não queria me armar de novo.
Foram dias muito bons. Foram risadas, sorrisos, beijos, abraços, e o melhor: tudo era feito às claras. Tudo era passado juntos. Já não era mais eu: agora, éramos eu e você.
Te incluí em meus planos. Programava festas, viagens, passeios, e até mesmo aulas. Imaginava-me dali 10 anos, ainda ao seu lado. Quem sabe o destino me permitisse a sorte de um amor que não precisaria acabar. Talvez, se eu pedisse com jeitinho, os céus me permitissem sorrir sempre para o mesmo olhar, e como a maré que inunda a praia, você inundaria meu mundo, sem me afogar.
Mas então, da mesma forma que veio, seu amor se foi, e eu não percebi isso, ou talvez até tenha percebido, só não quis assumir a realidade que me assombrava. Ali, em meio ao mar de amor, seu rio de desapego desaguou nas águas, e o azul tomou uma tonalidade marrom, capaz de me fazer querer nunca ter começado a nadar.
De maneira tão súbita as intermináveis conversas sobre o universo se transformaram em incontáveis discussões pelos motivos mais banais. E assim, da mesma forma que antes eu esperava ansiosamente pelo bip do celular, agora, esse som me assombrava, e levava a nem mais ler as muitas mensagens que chegavam uma atrás da outra.
Os passeios agora eram apenas pequenas caminhadas até seu lugar favorito, afinal, precisávamos estar sempre onde você queria, e nunca onde eu pedia. Os beijos quentes e longos transformaram-se em rápidas beijocas, como aquelas que as crianças dão com medo de que alguém chegue e os pegue sozinhos.
Seus conselhos antes tão bons, agora eram apenas palavras frias e fortes, que diziam o quanto aos seus olhos eu era mimada e pequena. Em poucos meses nosso mar de amor transformou-se em um oceano de confusão.
Mas apesar disso, eu continuava ali. Não sabia bem o porquê, mas continuava. Continuava discutindo, brigando, falando alto. Continuava beijando, segurando a mão, dividindo a mesma cama. Sim, eu continuava ao seu lado, como se nada tivesse acontecido. Demonstrava ao mundo uma pessoa forte, sorridente e feliz, mesmo estando despedaçada, triste e confusa por dentro.
Conversava com sua família, e até fazia planos para o futuro; um futuro que por sinal muito me assustava, pois já não sabia se queria que você participasse dele. Falava com seus amigos, e os tratava bem. Convivia com seus problemas e lhe ajudava a solucioná-los. Ouvia suas músicas, lia seus textos, organizava suas coisas, estava ali. Pelo quê, não sei, mas estava.
E então um dia depois de muito brigar comigo mesma percebi: eu já não te amava, apenas estava acostumada com sua companhia. Eu me acostumara a ter alguém segurando minha mão à noite quando estávamos deitados. Estava acostumada a fazer parte da família, dos amigos, dos problemas, das comemorações.
Eu me acostumei com a pessoa errada, e isso me destruiu. Eu me acostumei com beijos, abraços, sorrisos e presentes, da mesma forma que me acostumei a ser maltratada! Eu me acostumei a receber críticas, a não ter resposta sobre perguntas, a viver no seu mundo, e fingir que o meu não existia.
Eu me acostumei a não estar solteira. Me acostumei a carregar em mim o peso de um relacionamento falido, tudo por conta do comodismo. Sim, isso mesmo: c-o-m-o-d-i-s-m-o. Era cômodo ter alguém ali, por ruim que fosse sua companhia. Era mais cômodo permanecer em uma situação ruim do que criar uma ainda pior. Se a ideia de te abraçar após uma discussão e fingir que nada havia acontecido me entristecia, a de encontrar meu futuro ex pelos corredores era infinitamente mais assustadora.
E assim fui (sobre)vivendo. Fui dormindo e acordando, como se nada estivesse fora do lugar. Fui repetindo a mim mesma a frase “sim, eu o amo” como uma espécie de mantra capaz de me fazer acreditar naquilo e prosseguir. Mas não, eu não o amava; ao menos não mais.
Então hoje eu vim te dizer que sim, eu me acostumei com a pessoa errada, e isso me consumiu. Mas eu também percebi a profundidade das águas onde nadava, e assim, pouco a pouco, lentamente, consegui retornar à superfície e voltar a caminhar em terra firme.
Demorou, demorou muito, mas hoje eu estou bem, e vou continuar assim. Hoje sou acostumada apenas comigo mesma. Estou me acostumando a amar alguém especial: eu mesma. E nessa história de me amar pude perceber que muito melhor que estar numa gaiola protegida dos predadores, é voar pelo céu e avistar tudo por cima.
Se você gostou desse texto, deixe seu comentário <3 E olha, tenho certeza que você vai AMAR esse texto também: Cansei de te esperar
Eu também sou colunista de outros blogs, dá um pulinho lá para conferir: Que Me Transborde e Recalculando a Rota.
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Raquel Gonçalves
Raquel Gonçalves, Ela é a menina que grita em silêncio, e desenha em palavras o uni-verso. A Deus tudo atribui e, dele, tudo recebe. Sempre flutuando em outros mundos, mas com os pés fixos neste aqui. Como canta Ana Carolina: “é que eu sou feita pro amor da cabeça aos pés, e não faço outra coisa se não me doar”.

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